No entanto, aqueles dois
mascates, aproveitando da ingenuidade dos matutos do meio rural mineiro,
almejavam se enriquecer passando todo mundo para trás, vendendo gato por lebre,
passando a perna no povo.
Naquele dia, depois de
muitas andanças, chegaram ao final do dia cansados e famintos, caçando
jeito de encontrar um lugarzinho para encostar o esqueleto , e um meio de matar
a fome. Já estava escuro quando avistaram uma casinha simples, num sitio à
beira da estrada, quase chegando em Tabuí.
- É aqui que vamos fazer a
festa. Achar comida, uma cama quentinha, e até vender umas coisinhas.
Bateram palmas na frente da
casa, e aguardaram uns minutos. Uma senhora, já avançada em anos, entreabriu a
velha porta de madeira, perguntando quem eram, e o que desejavam. Com ares de
muita humildade, eles disseram:
- Desculpe incomodar a senhora
numa hora dessas, mas estamos muito cansados de viajar o dia inteiro, sem
comer desde ontem. Será que a senhora não podia deixar a gente passar a noite por
aqui, num cantinho qualquer, e, se possível, arrumar alguma coisa para
matar a fome?
- Bamo entrá padento, sôs moço! Nimia
casa ninguém fica sem abrigo não.
Levou-os até a cozinha, dizendo
que iria preparar alguma coisa pra eles comerem. Enquanto papeavam, ela pegou
farinha e alguns ingredientes para amassar uns bolinhos. Amassa daqui, amassa
dali, e a massa ficou muito dura e ressecada. Então ela cuspiu nas mãos para
amolecer cada bolinho, antes de jogar na gordura quente. Terminado o serviço,
colocou os bolinhos num prato à frente deles, dizendo:
- Taí o que tenho procêis matá a
fome. Tô muito cansada, já vô drumi. Ali perto da dispensa, tem um
quartinho, e ocêis pode se ajeitá lá. Ba noite!
Quando a velha desapareceu
da cozinha, um olhou para a cara do outro, dizendo:
- Nem que eu morra de fome, não
tenho coragem de comer este troço nojento não.
E o outro:
- Eu também não tenho coragem
não. Mas, dormir com fome, nós não vamos não. Olha ali.
E apontou para cima do fogão de
lenha, onde, dependurada num arame, pendia uma tira de toucinho.
- Vamos pegar quele toucinho,
que já tá bem defumadinho, e tirar a barriga da miséria.
Deram só uma esquentadinha, e
mandaram ver no toucinho da velha, indo dormir mais sossegados. No dia seguinte
foram acordados com os gritos da velhota que xingava Deus e o diabo, quando deu
conta do prejuizo.
- Cambada de safado!
Capetada! Mascates disgraçado! Dero fim no meu toucim. Cumé que vô fazê agora?
Era o remédim co tinha pa refrescá a minha murróidia. (Causo "garimpado" em Carmo do Rio Claro pelo pesquisador Joaquim da Silva Junior)
Nenhum comentário:
Postar um comentário